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02 janeiro 2024

A INESQUECÍVVEL CAMISOLA VERMELHA TRANSPARENTE

 

A INESQUECÍVVEL CAMISOLA VERMELHA TRANSPARENTE

 

      Nem o tempo, nem um novo amor irá apagar todas as marcas ou dissolver todas as lembranças dos graciosos instantes que tive contigo, branquinha. Incontestavelmente, estarei condenado à companhia desta dolorosa paixão que me faz ridículo.

     Começou apenas por uma experiência, precisava te esquecer aos poucos, não queria sofrer a abstinência da tua companhia. Na primeira noite procurei para dormir com alguma coisa que te pertencesse, claro que nunca ia te substituir, não era o caso, mas traria, de certa forma, a ideia de sua presença naquele momento. Pois bem, virou um hábito dormir abraçado com tua camisola vermelha transparente que levastes de propósito junto com as minhas roupas no dia em que nos encontramos às escondidas, pela última vez. Confesso que já me deu vontade de devolver tua camisola vermelha transparente, mas o diabo do teu cheiro ainda está nela. E isso ia causando uma coisa muito séria em minha vida!

      À noite estendo do lado direito da cama, o mesmo lado que tu dormias, uma vez ou outra acordo passando a mão sobre ela. Que devaneio! Chego a sentir teu corpo branco bem aventurado e belo, vestido nela. E quando viajo? Levo-a comigo, quando não estou acompanhado, é claro. Certa vez parei em uma dessas blitz, e o guarda pediu para abrir a mochila. Fiquei desnorteado, a camisola vermelha transparente foi a primeira coisa que ele pegou quando abriu a mochila, ironicamente balançou a cabeça, fez revista, minuciosamente. Como nada constava contra a mim, devolveu os documentos, dobrou a camisola, entregou-me sorrindo novamente. Entrou no carro, ficou a olhar, esperando que eu retomasse a estrada. Olhei para céu, achei que o tempo estava prometendo uma chuva, precisava ir rápido, contudo o guarda ainda estava ali, desta vez poderia presentear-me com uma multa por excesso de velocidade, embora fosse essa a vontade, sai dali queimando pneus. Montei à motocicleta, entrei lentamente na rodovia, agora preocupado com a postura daquele policial! 

     Bom, vou pular esse detalhe, não é interessante, chega a ser constrangedor, até porque ele não acreditou na história que contei. Voltemos às lembranças. Sabe aquela pousada à beira da estrada que dormimos naquela viagem de motocicleta? Pois é, voltei lá, só para lembrar de tudo que fizemos naquele quarto. Repeti tudo direitinho como foi naquela noite de julho de 2010,  fui visitar a pracinha,  para minha surpresa o guarda estava lá, procurei uma mesa bem distante de onde se encontrava, tinha alguma coisa naquele homem que não me cheirava bem, parecia que eu estava sendo vigiado sem saber. Então diante desta suspeita resolvi retornar para o quarto. Comecei o ritual de todo dia, estendi tua camisola vermelha transparente, deitei juntinho, fiz as mesmas carícias que fazia em ti.

     A minha exaltada imaginação ultrapassava os limites que me impusera pela tua timidez, agora te via sem pudor como nunca havia me revelado, desta vez, dormi sobre ela. Que sonho! A noite, querida, passou a galopes, numa rapidez indescritível.

        Ainda deitado sobre tua camisola vermelha transparente, a imaginar teu corpo, escuto pessoas falando alto, outras gritando. Desci para saber o que havia acontecido. Um fato deixou-me curioso, uma senhora tranquilamente fumando, enquanto o alvoroço tomava conta de quem vinha chegando para saber o que tinha acontecido. Ao passar por uma das mulheres tomada por aquela histeria, ouvir quando relatou o episódio ocorrido à amiga. Pois bem, um homem havia roubado uma peça intima da dona da pousada! Quis saber mais detalhes, aproximei da senhora, perguntei o que acontecera? Ela consternada com a situação, disse:__ um tarado roubou a camisola vermelha de Joana! Linda cheia de detalhes, e olhe rapaz foi da noite de núpcias dela e Reginaldo, com certeza é uma peça especial. É muita safadeza, não é? Eu confirmei, voltei para quarto, arrumei a mochila, paguei a conta, resolvi sair sem mesmo tomar café da manhã, pois o que de fato queria fazer, era sair dali, antes de encontrar aquele policial, estranho policial. Ele poderia achar que a tua camisola fosse da mulher da pousada, para demonstrar a eficiência de autoridade levar-me à prisão, porém  por causa de sua esquisitice, eu também desconfiei que poderia ser o ladrão da camisola de dona Joana da pousada.     

                                                                                                                         Farias. 2013

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