A INESQUECÍVVEL CAMISOLA VERMELHA
TRANSPARENTE
Nem o tempo, nem um novo amor irá apagar todas as marcas ou dissolver
todas as lembranças dos graciosos instantes que tive contigo, branquinha.
Incontestavelmente, estarei condenado à companhia desta dolorosa paixão que me
faz ridículo.
Começou apenas por uma experiência, precisava te esquecer aos poucos,
não queria sofrer a abstinência da tua companhia. Na primeira noite procurei
para dormir com alguma coisa que te pertencesse, claro que nunca ia te
substituir, não era o caso, mas traria, de certa forma, a ideia de sua presença
naquele momento. Pois bem, virou um hábito dormir abraçado com tua camisola
vermelha transparente que levastes de propósito junto com as minhas roupas no
dia em que nos encontramos às escondidas, pela última vez. Confesso que já me
deu vontade de devolver tua camisola vermelha transparente, mas o diabo do teu
cheiro ainda está nela. E isso ia causando uma coisa muito séria em minha vida!
À noite estendo do lado direito da cama, o mesmo lado que tu
dormias, uma vez ou outra acordo passando a mão sobre ela. Que devaneio! Chego
a sentir teu corpo branco bem aventurado e belo, vestido nela. E quando viajo?
Levo-a comigo, quando não estou acompanhado, é claro. Certa vez parei em uma
dessas blitz, e o guarda pediu para abrir a mochila. Fiquei desnorteado, a
camisola vermelha transparente foi a primeira coisa que ele pegou quando abriu
a mochila, ironicamente balançou a cabeça, fez revista, minuciosamente. Como
nada constava contra a mim, devolveu os documentos, dobrou a camisola,
entregou-me sorrindo novamente. Entrou no carro, ficou a olhar, esperando que
eu retomasse a estrada. Olhei para céu, achei que o tempo estava prometendo uma
chuva, precisava ir rápido, contudo o guarda ainda estava ali, desta vez
poderia presentear-me com uma multa por excesso de velocidade, embora fosse
essa a vontade, sai dali queimando pneus. Montei à motocicleta, entrei
lentamente na rodovia, agora preocupado com a postura daquele policial!
Bom, vou pular esse detalhe, não é interessante, chega a ser
constrangedor, até porque ele não acreditou na história que contei. Voltemos às
lembranças. Sabe aquela pousada à beira da estrada que dormimos naquela viagem
de motocicleta? Pois é, voltei lá, só para lembrar de tudo que fizemos naquele
quarto. Repeti tudo direitinho como foi naquela noite de julho de
2010, fui visitar a pracinha, para minha surpresa o guarda estava lá,
procurei uma mesa bem distante de onde se encontrava, tinha alguma coisa
naquele homem que não me cheirava bem, parecia que eu estava sendo vigiado sem
saber. Então diante desta suspeita resolvi retornar para o quarto. Comecei o
ritual de todo dia, estendi tua camisola vermelha transparente, deitei
juntinho, fiz as mesmas carícias que fazia em ti.
A minha exaltada imaginação ultrapassava os limites que me impusera pela
tua timidez, agora te via sem pudor como nunca havia me revelado, desta vez,
dormi sobre ela. Que sonho! A noite, querida, passou a galopes, numa rapidez
indescritível.
Ainda deitado sobre tua camisola vermelha transparente, a imaginar teu
corpo, escuto pessoas falando alto, outras gritando. Desci para saber o que
havia acontecido. Um fato deixou-me curioso, uma senhora tranquilamente
fumando, enquanto o alvoroço tomava conta de quem vinha chegando para saber o
que tinha acontecido. Ao passar por uma das mulheres tomada por aquela
histeria, ouvir quando relatou o episódio ocorrido à amiga. Pois bem, um homem
havia roubado uma peça intima da dona da pousada! Quis saber mais detalhes,
aproximei da senhora, perguntei o que acontecera? Ela consternada com a
situação, disse:__ um tarado roubou a camisola vermelha de Joana! Linda cheia
de detalhes, e olhe rapaz foi da noite de núpcias dela e Reginaldo, com certeza
é uma peça especial. É muita safadeza, não é? Eu confirmei, voltei para quarto,
arrumei a mochila, paguei a conta, resolvi sair sem mesmo tomar café da manhã,
pois o que de fato queria fazer, era sair dali, antes de encontrar aquele
policial, estranho policial. Ele poderia achar que a tua camisola fosse da
mulher da pousada, para demonstrar a eficiência de autoridade levar-me à
prisão, porém por causa de sua
esquisitice, eu também desconfiei que poderia ser o ladrão da camisola de dona
Joana da pousada.
Farias. 2013
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