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02 janeiro 2024

A TUA DELICIOSA LOUCURA.

 

A TUA DELICIOSA LOUCURA.


      Por muito tempo estive pensando no que tu me dizias sorrindo após os nossos prazerosos momentos. Hoje quando me interesso por uma mulher, vem logo a frase: não basta ser bonitinha é preciso muita imaginação também. Após alguns infrutíferos e rápidos relacionamentos, tenho que concordar contigo, precisa realmente de muita imaginação também, para que o tempo, a rotina não desgaste a aventura de compartilhar a vida com quem achamos que é para vida toda.

       Enfim, quero dizer-te, nenhuma mulher conseguiu superar a tua graciosa imaginação. Amar- te foi sem dúvida uma das mais agradáveis dádivas desta vida, certamente não cairá no esquecimento. Adorava tuas personagens: esposa, prostituta, enfermeira, dançarina Turca, mulher gato, camponesa, freira, baiana e outras personagens do reino animal, era, realmente delirante, muito grato à vista, um encanto de prazer, e possivelmente não encontrarei uma mulher tão louca por prazeres tão ímpares.

O certo foi que com o passar do tempo me vi obrigado a entrar nesse estranho e delicioso mundo exclusivamente teu. E nele, Já fui: médico, policial, escravo, carteiro, caçador, o varredor de rua que vinha varrer todos os dias a frente de tua casa, e até cavalo. Esse último tu adoravas. Lembras de quando brincávamos com as portas fechadas? Ficávamos despidos correndo ao redor da cama, ora ao redor da mesa de jantar. Era uma loucura, eu era um lobo muito faminto, e tu mostravas os dentes, falavas que eras uma cachorra. Colocavas as mãos na cintura e ficavas a requebrar dizendo que o lobo não iria te pegar. Daí começávamos correr, de propósito, recordo muito bem, como se fosse hoje, tropeçavas para que eu chegasse até a ti. Que coisa né? Cheguei diversas vezes a invocar em pensamento os deuses dos poetas que na hora da aflição nos confortam com suas canções para me tirar daquela gostosa tortura, mas, ainda bem, parece que eles entenderam errados, e derramavam sobre ti, chuvas de beleza e sensualidade, tornava-se mais atraente. Resistir a tua perseguição amorosa, era impossível, acabava cedendo aos teus olhares de volúpia, passava a te ver divinamente gostosa, absolutamente superior, dona de mim.

     A tua intensidade seduzia, teu amor louco e extravagante embriagava-me de prazer. Adorava aquela encantadora loucura. Uma personagem, tenho guardado em minha memória, não porque as outras tiveram pouca importância, mas o figurino da prostituta, aquele vestido preto com uma longa abertura do lado esquerdo! E a maquilagem? Um batom vermelho, e uma pinta no rosto, típica prostituta americana dos anos 30. Depois de dar uma desfilada pela sala, sentavas no sofá, fingia está fumando, cruzava as pernas e começava a cena de sedução. Mulher, tu eras de fato muito louca, porém nada mais apaixonante poderia existir. Aproposito, falando nisso, nunca te respondi quando me perguntavas de qual personagem eu mais gostava.

    Pois bem, digo agora, já que não estamos mais com essa extravagante e prazerosa loucura de amar, nem dela gozamos mais da deliciosa liberdade de imaginar. Acredite mulher, de todas as personagens, a que eu mais gostava era quando fazias o papel de esposa. 
                                                                                                                         Farias 2015

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