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02 janeiro 2024

MEUS ÚLTIMOS ESCRITOS PARA YELENA.

 

 

 

 

MEUS ÚLTIMOS ESCRITOS PARA YELENA.

  

    As noites passadas acordado criando teorias, equacionando os meus vagos e aperreados pensamentos para te convencer da estúpida” decisão” forçosamente tomada, de nada adiantou. O tempo já havia transcorrido. Não fui capaz de te fazer retroceder, mostrar que para mim, tu eras o meu amor para a vida toda, ou para além dela.

     Hoje meu peito cicatrizado, convivo, sem mágoa, mas certo que nossa vida foi violentada. Violentada sim! A maneira perversa e cruel usada para nos partir, tornou impossível juntar os fragmentos de uma vida próspera, dilacerada ao bel prazer de quem não tinha moral ou princípio, nem tão pouco exemplo algum para dá. Perdão, querida Yielena, não podia começar esse texto sem antes desabafar, sei que estás lendo e jogando toda culpa em mim, como foi desde sempre.

      Acordei lembrando das tuas palavras, após uma noite inteira de acaloradas carícias.... Ligastes em pranto pedindo: “entenda, por favor, não é o que eu quero mas é o que preciso”. Nunca procurei saber a razão, nem a entender. Dali em diante, só tinha uma certeza, não eras mais minha adorável mulher. Restava apenas recordar o que melhor sobrou de nós. Lembrar o tempo áureo da impetuosa paixão, o modo particular inconsequente teu e meu. A gostosa sensação de ti sentir convulsiva colada a mim. Em algumas ocasiões, aqui declaro, causava estranheza! Uma coisa sem limite. Meu eu, também sem medidas tornava refém das tuas vontades, embora, em todo caso, tínhamos prazeres mútuos.

    Enfim era muito fácil exagerar contigo. E de fato exagerávamos de vez em quando. Depois do amor, deitavas com o rosto suavemente em meu peito. Aquela manifestação súbita e violenta de prazer, lentamente cedia espaço a um largo tranquilo, onde, sem perigo, navegava nas ondulações do teu corpo. Ingênuo buscava conter o tempo. Que loucura! Nenhum tempo era suficiente para nós. Eu te queria de uma forma única, absolutamente única.

     Um amor assim não pode envelhecer, nem sofrer a erosão do tempo, ou as insanas ambições humanas. Talvez seja por razões místicas, transcendentes, não conseguimos explicar o fim, ou simplesmente essa forma de amar, só sobrevive no imaginário.  Agora, portanto, enquanto o tempo não me tira a sensibilidade e a delícia de lembrar desses momentos, vou por aqui sem nenhuma pretensão, revivendo nossa história onde tiver registro dela. Domingo, após a missa, passei na pracinha dos ardentes encontros.

     Se fores lá, verás que nosso banco é o mais limpo, a pequena árvore do lado que sentavas, é a mais viva. Vou te revelar um segredo, não fique zangada. Aliás, admito, tenho saudades de te ver zangada. Como queria te ver zangada, só mais uma vez. Para também, só mais uma vez tê-la do jeito meu. Olhar  para tua cara e ver teu ingênuo fingimento fazendo charme, dizendo eu não quero, não quero, encostando tua boca na minha e ... deixa estar. Bom, era assim que a gente resolvia, em qualquer parte da casa, nossas divergências.

     Retornemos ao assunto, quero falar da pracinha. Faz alguns dias, não devia, mas levei uma amiga lá, no mesmo horário que te levava, e descobri porque escolhias aquele lado para sentar. A sombra da pequena árvore encobria teu rosto, ninguém conseguia te vê, nem via as carícias improprias que a ti fazia. Esperta hem! Informo também, caso queiras certificar, de repente até me encontrar. Continuo indo ao bar que íamos juntos, sento na nossa mesa, quando está desocupada. Se chego, a mesa está em outro lugar, chamo a garçonete, aquela que tu dizias: não gosto dessa mulher, não tem outra pessoa para atender a gente? Pobre moça, o tempo não foi tão generoso com ela, um pouco mais velha carrega marcas de uma vida difícil. Discretamente peço para colocar onde costumávamos sentar, ela acha esquisito, rir do pedido, mas atende, sou cliente, e velho conhecido. Logo que sento vem a terna lembrança de nós dois, esperando o cover cantar a nossa música, só um pouco mais tarde saímos à procura de um lugar para passarmos o resto da madrugada.  

     Ah! Querida Yielena, reconheço, às vezes fico saudoso, gosto do nosso passado, ainda que seja dolorido, mas gosto. Apesar de tudo, branquinha, sinto vontade de te acordar pelas manhãs, principalmente das manhas de domingo, da tua cara olhando para cima. Sabes do que estou falando, estou certo disso. De ver teus cabelos desarrumados, envergonhada procuravas uma fita para amarrá-los. Adorava te ver despida andando pela casa, ou só com minha camisa preta com estampa do Pink Floyd. Ufa! Que cena! Sei que és atormentada por essas lembranças, e esforça-se para não fazer comparações, todavia é inevitável. Não vais suportar, um dia cansarás da medíocre vida que levas. Sairás à procura de um lugar para passar as últimas horas da madrugada comigo (risos). Brincadeira, não leves a sério, não venhas a minha procura na madrugada. Ainda não perdi a sensibilidade nem a delícia de lembrar de ti. Por esse motivo, e não outros, estou buscando caminho opostos aos seus, “entenda, por favor, não é o que eu quero, mas é o que preciso”.

    Espero não encontrar, por enquanto, nada para lembrar de ti. Não tente me encontrar, por favor. Não tenho caminho certo. Sou um andarilho, não sei aonde esta sinuosa estrada vai me levar. Tenho um propósito, somente, vou semear alegria e minha vontade de viver, por onde eu andar.

                                                                                                              Farias. 20/02/2013

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