O PARQUE DE DIVERSÕES
Ontem fui àquele parque de diversões que íamos na adolescência,
encostei-me na grade do carrossel, entretido olhava as luzes coloridas, as
crianças se divertindo felizes, sorrindo despretensiosas. O deslumbre foi tão
grande que acabei passando as folhas do meu diário secreto que guardo em
mim, e folheio quando estou com saudade e muito, muito precisado de ti.
Continuei volteando pelo Parque, fui à roda gigante, lá, revivi nós dois em um
casal de namorado que estavam trocando carícias, pareciam tão apaixonados!
Fiquei comovido! A cena fez-me cantarolar em pensamento uma canção do
passado.
Pensei, se ela estivesse aqui, iria ficar surpresa, parece que nada
mudou, o pipoqueiro é o mesmo, agora já com cabelos brancos, ele ficou olhando
como se estivesse querendo me reconhecer, ou se perguntando porque a menina dos
cabelos dourados e cacheados, não estava comigo ali, o que teria acontecido?
Caminhei mais um pouco parei na cabine de som onde pedíamos músicas e
oferecíamos as paqueras presentes em alguma parte do
Parque. Coincidência ou não estava tocando Wish
yuo were here , sabes que temos uma relação especial
com esta canção, foi a trilha sonora do nosso encontro na casa de tua
tia. Estávamos sozinhos e apaixonados, tudo convencionalmente indecentes, para
nós era divino e belo. Olhavas, dizias a sorrir timidamente que a única forma
em que nos encontrávamos mais próximo da pureza era na nudez, as roupas
encobriam não só nossas partes íntimas, mas também o caráter, encobria a
hipocrisia e a vaidade soberba.
Após vê-la filosofar, descer a
minha bermuda, nos entregamos as mais indecentes formas de amar. Enquanto
permanecia parado por alguns segundos, contorcia-te, o corpo deslizava sobre o
meu pondo-se em movimento crescente, convulsivamente numa fusão escaldante
nossos corpos banhados de suor tornavam um só. Sentia invadir-te
involuntariamente, teu coração batia acelerado, tuas veias estavam mais
acentuadas, com uma força excessiva cravavas teus finos e delicados dedos nas
minhas costas. Depois de deleitar-se, suavemente separa, deita do lado, olha
ternamente, sorri sem acreditar no que havia acontecido.
Nunca esqueci o dia do teu gozo pleno, nem da importância da nudez para
ti. Talvez seja por isso que insistias tanto para estarmos nus sempre que
estávamos a sós. Era a mais graciosa das criaturas. Cheguei a pensar no amor
como algo exclusivamente nosso, e o que sentíamos era infinitamente maior que
qualquer coisa. Que decepção! Na primavera daquele mesmo ano, sofri a mais
profunda dor, meus dias passaram a ser triste, as noites solitárias e
melancólicas como as de um detento. Via desesperado tua pureza se dissipar,
entregava-se aos prazeres nunca vividos.
Cada dia uma aventura. Tu que fostes minha, agora estavas entregues a
devassidão. Ao passo que aquilo me torturava eu a amava
incondicionalmente, imaginar outras mãos tocar teu corpo era dolorido, angustiante,
matava-me. O meu ser ingênuo,
apaixonado transformava-se em um libertino incorrigível, passei a acompanhá-la
em suas andanças. Contigo, por ti, mergulhei em um universo de vícios, prazeres
sem regra, se é que existem regras para os prazeres. Frequentávamos os piores
lugares, onde também estavam as piores companhias, muitas vezes dormíamos à
margens de estradas depois de tantas noites exageradamente vividas, nos
perdíamos no enlace dos prazeres provocados pelo sexo.
Enfim, depois da conta, vem a cobrança, às vezes um pouco atrasada,
mas vem. A minha veio guiando um velho Opala vermelho SS, por causa dele foi
desfeita a nossa gostosa e delirante parceria. O atropelamento, pôs-me em coma
por alguns dias. Não lembro por qual motivo estávamos naquela estrada, essa é a
melhor parte de tudo, não lembrar. A única lembrança que tenho era que naquela
noite, eu seria posto à prova, falavas isso, incisivamente ao vapor do álcool:
“esta noite vais me provar”. Acredito que sentiria medo se soubesse, pois as
aventuras estavam ganhando proporções gigantescas. Tinhas um fascínio por tudo
que era perigoso.
Negar que tenho saudades? Claro que tenho. No entanto se por ventura o
destino mais uma vez cruzar nossos caminhos, te chamarei para ouvir,
Wish yuo were here. Desta vez trocaremos aquelas
substâncias por um gelado e saboroso refresco. Falarei do tempo do Parque de
diversões, por que de tudo que vi e vivi contigo, essa é a lembrança mais bela,
embora tua maneira extravagante de viver ainda me fascina.
Farias 28/03/2003.
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