UM CONTO PARA RECORDAR
(...) Há de ser sempre triste, se tais prazeres não expulsam o
tédio que, sem cessar, a perseguem”. Erasmo de Roterdã, Elogia da loucura.
Não há dia mais especial para uma mulher e um homem que o dia do sim. É
uma correria incessante. Provar roupa, o homem, porque a mulher já tem passado
o mês inteiros provando, o último dia para ela é dedicado ao cabeleireiro e ao
maquiador. Enfim, o certo mesmo é que todos esperam ansiosos a presença da
noiva. Ela é mais importante, o resto é coadjuvante, padre, noivo, padrinhos os
pais. A noiva, ao entra na igreja além de ser a estrela da vez ,traz uma magia encantadora,
a mais impura das criaturas naquele instante se purifica. O ambiente está
agraciado, uma força superior invade o espaço e transborda por portas e
frestas, deixando tudo sereno e belo. É inesquecível o momento.
Aquele dia, acredite, é o dia, que mesmo distante hoje por alguma
circunstância, estamos ligados um ao outro, se não for pela promessa que
fizemos na igreja, perante uma imensa quantidade de gente, estamos ligados pelo
momento e por toda a história que tivemos e nos levou até lá. Pois bem,
recordo, saudoso, a igreja estava com muita gente, amigos, familiares, até um
curioso que pareceu estar embriagado apareceu na igreja. Por motivos que
somente nós sabemos, não compareceram, nenhum familiar meu. De certo foi pelo
rompimento com o que eles acreditam.
Na verdade, o credo religioso era o que menos a mim importava, a
grandeza do sentimento, a vontade estarmos juntos era muito maior. Um amor
daquele não era comum. Os severos princípios forjados ao fogo da cega tradição,
foram deixados de lado, tabus religiosos quebrados, negar a religião certamente
seria o mais doloroso, se não tivesse valido a pena, mas valeu apena, as nossas
almas não eram pequenas, lembrado as palavras do poeta Fernando Pessoa. Quando
olhei para a porta, ouvi do meu lado um tímido comentário: ela está chegando,
meu Deus! Está perfeita.
Ansioso e muito apreensivo à espera do momento para dizer sim para ti,
do altar onde te esperava a vi subir a escadaria da igreja, e vinhas, linda,
parecia alguém que havia fugido das páginas de um livro de contos de princesas,
tão linda estavas! Tudo perfeito, a igreja, você vestida modelando o corpo,
ficaste graciosa e sedutora, uma calda enorme do vestido a tornavas mais
divina. Enquanto os convidados lançavam olhares surpresos e ambiciosos
para teu rosto lindo, eu agoniado esperava nervosamente para tocar em ti. Da
porta da igreja até o altar, foi um longo e tenso tempo, parece que dava um
passo para frente e outro para trás, até que chegado bem próximo a recebi,
ficamos frente a frente. Teus
olhos terníssimos lacrimejaram, sem controle das emoções choraste
descontroladamente emocionada. Então peguei a tua mão e beijei suavemente teus
lábios, antes mesmo das últimas palavras do Padre.
Durante a celebração da nossa união, em pensamento eu dizia para mim,
ela é minha, agora gozaremos da liberdade, da loucura que a paixão nos permite.
Os meus impróprios pensamento foram interrompidos pelo sacerdote que também
emocionado, certamente, digo isso pela beleza das palavras, narrou o nosso
encontro e quem o preparou, recordo como se estivesse agora mais uma vez
casando contigo, o sacerdote dizer: Deus tinha escolhido desde dos nascimentos
de vocês e esperou a ocasião certa para fazer o encontro, e aquele ato estava
acontecendo porque ele permitiu, e o que Deus uni o homem não separará jamais,
depois destas palavras foram ditas outra que não lembro, fiquei extasiado de
alegria e orgulho de ser teu homem, unidos resistiríamos as atrozes injurias,
que um dia o mundo ia nos apresentar.
O amor que faríamos daqui pra frente, era permitido, as nossas
inquietações e culpas estavam se dissipando, o prazer que desfrutávamos
ganhavam uma conotação de pureza, meus pensamentos divagaram do presente para o
futuro, o que iríamos construir juntos, uma família, envelhecer juntos? Este
delírio me fazia feliz, expulsava definitivamente as tormentas, os pesares, e
inquietações. Estava absolutamente entorpecido de prazer.
Por fim o jovem sacerdote nos faz repetir nossos nomes e se
comprometermos em amar e respeitar um ao outro, na doença, na pobreza na
riqueza e outras coisas que não consigo lembrar, até que a morte nos separasse.
Pronto, estávamos ligados para toda a vida, pensei, orgulhosamente. Sabe aquela
foto na saída da igreja com uma chuva de arroz sobre nossas cabeças? É a minha
foto preferida, ali, a sua e a minha alegria revelam o quanto queríamos estar
juntos. Lembrar desse dia é tarefa cotidiana na vida daquele que um dia amou e
intensamente foi amado. Como esse fenômeno não se desvincula inteiramente, a
qualquer lugar que a gente vai, ele estar conosco, certa vez estava em um bar
com um amigo, e o assunto era exatamente este, casamento, audaciosamente
me perguntas porque não deu certo nosso casamento. Eu o fiz cessar, para não
proferir mais nenhuma tolice.
Perguntei quem teria dito que não deu certo? Peguei em seu braço, e com
toda certeza existente sob o céu , disse: saibas amigo, que a honra, a alegria
e o prazer de ter tido esta mulher única e admirável em sua plenitude como eu
tive, ninguém vai ter, isso já vale uma vida. Levantei paguei a conta nunca
mais o vi.
Farias 28/03/2014
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