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02 janeiro 2024

UM CONTO PARA RECORDAR

 

 

UM CONTO PARA RECORDAR

 (...) Há de ser sempre triste, se tais prazeres não expulsam o tédio que, sem cessar, a perseguem”. Erasmo de Roterdã, Elogia da loucura.

      Não há dia mais especial para uma mulher e um homem que o dia do sim. É uma correria incessante. Provar roupa, o homem, porque a mulher já tem passado o mês inteiros provando, o último dia para ela é dedicado ao cabeleireiro e ao maquiador. Enfim, o certo mesmo é que todos esperam ansiosos a presença da noiva. Ela é mais importante, o resto é coadjuvante, padre, noivo, padrinhos os pais. A noiva, ao entra na igreja além de ser a estrela da vez ,traz uma magia encantadora, a mais impura das criaturas naquele instante se purifica. O ambiente está agraciado, uma força superior invade o espaço e transborda por portas e frestas, deixando tudo sereno e belo. É inesquecível o momento. 

    Aquele dia, acredite, é o dia, que mesmo distante hoje por alguma circunstância, estamos ligados um ao outro, se não for pela promessa que fizemos na igreja, perante uma imensa quantidade de gente, estamos ligados pelo momento e por toda a história que tivemos e nos levou até lá. Pois bem, recordo, saudoso, a igreja estava com muita gente, amigos, familiares, até um curioso que pareceu estar embriagado apareceu na igreja. Por motivos que somente nós sabemos, não compareceram, nenhum familiar meu. De certo foi pelo rompimento com o que eles acreditam.

    Na verdade, o credo religioso era o que menos a mim importava, a grandeza do sentimento, a vontade estarmos juntos era muito maior. Um amor daquele não era comum. Os severos princípios forjados ao fogo da cega tradição, foram deixados de lado, tabus religiosos quebrados, negar a religião certamente seria o mais doloroso, se não tivesse valido a pena, mas valeu apena, as nossas almas não eram pequenas, lembrado as palavras do poeta Fernando Pessoa. Quando olhei para a porta, ouvi do meu lado um tímido comentário: ela está chegando, meu Deus! Está perfeita.

      Ansioso e muito apreensivo à espera do momento para dizer sim para ti, do altar onde te esperava a vi subir a escadaria da igreja, e vinhas, linda, parecia alguém que havia fugido das páginas de um livro de contos de princesas, tão linda estavas! Tudo perfeito, a igreja, você vestida modelando o corpo, ficaste graciosa e sedutora, uma calda enorme do vestido a tornavas mais divina. Enquanto os convidados lançavam olhares surpresos e ambiciosos para teu rosto lindo, eu agoniado esperava nervosamente para tocar em ti. Da porta da igreja até o altar, foi um longo e tenso tempo, parece que dava um passo para frente e outro para trás, até que chegado bem próximo a recebi, ficamos frente a frente.         Teus olhos terníssimos lacrimejaram, sem controle das emoções choraste descontroladamente emocionada. Então peguei a tua mão e beijei suavemente teus lábios, antes mesmo das últimas palavras do Padre. 

       Durante a celebração da nossa união, em pensamento eu dizia para mim, ela é minha, agora gozaremos da liberdade, da loucura que a paixão nos permite. Os meus impróprios pensamento foram interrompidos pelo sacerdote que também emocionado, certamente, digo isso pela beleza das palavras, narrou o nosso encontro e quem o preparou, recordo como se estivesse agora mais uma vez casando contigo, o sacerdote dizer: Deus tinha escolhido desde dos nascimentos de vocês e esperou a ocasião certa para fazer o encontro, e aquele ato estava acontecendo porque ele permitiu, e o que Deus uni o homem não separará jamais, depois destas palavras foram ditas outra que não lembro, fiquei extasiado de alegria e orgulho de ser teu homem, unidos resistiríamos as atrozes injurias, que um dia o mundo ia nos apresentar.

    O amor que faríamos daqui pra frente, era permitido, as nossas inquietações e culpas estavam se dissipando, o prazer que desfrutávamos ganhavam uma conotação de pureza, meus pensamentos divagaram do presente para o futuro, o que iríamos construir juntos, uma família, envelhecer juntos? Este delírio me fazia feliz, expulsava definitivamente as tormentas, os pesares, e inquietações. Estava absolutamente entorpecido de prazer.

     Por fim o jovem sacerdote nos faz repetir nossos nomes e se comprometermos em amar e respeitar um ao outro, na doença, na pobreza na riqueza e outras coisas que não consigo lembrar, até que a morte nos separasse. Pronto, estávamos ligados para toda a vida, pensei, orgulhosamente. Sabe aquela foto na saída da igreja com uma chuva de arroz sobre nossas cabeças? É a minha foto preferida, ali, a sua e a minha alegria revelam o quanto queríamos estar juntos. Lembrar desse dia é tarefa cotidiana na vida daquele que um dia amou e intensamente foi amado. Como esse fenômeno não se desvincula inteiramente, a qualquer lugar que a gente vai, ele estar conosco, certa vez estava em um bar com um  amigo, e o assunto era exatamente este, casamento, audaciosamente me perguntas porque não deu certo nosso casamento. Eu o fiz cessar, para não proferir mais nenhuma tolice.     

     Perguntei quem teria dito que não deu certo? Peguei em seu braço, e com toda certeza existente sob o céu , disse: saibas amigo, que a honra, a alegria e o prazer de ter tido esta mulher única e admirável em sua plenitude como eu tive, ninguém vai ter, isso já vale uma vida. Levantei paguei a conta nunca mais o vi.                             

                                                                                                               Farias 28/03/2014

                 

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