O VELHO CAJUEIRO.
Foi exatamente neste lugar, embaixo desta
árvore que te vi sem a parte de cima da roupa pela primeira vez. Os seios
volumosos, tão desejosos. Delicadamente tentei tocá-los, mais delicada ainda
sorrindo tentou esconder juntando os braços. Éramos dois jovens, querendo descobrir o mundo e
acabamos nos descobrindo amantes.
Todas as tardes lembras? Marcávamos nos
encontrarmos embaixo do nosso pé de caju. Acredito que este cajueiro nasceu com
este propósito, acolher, testemunhar a nossa ingênua e intensa paixão. Ah, meu
velho cajueiro, tua sombra encobria as mais extravagantes cenas de amor. Não
imagina quanta saudade! Tinha mandado um recado por um moleque, e ela não
aparecia, cheguei a pensar que não viria ao meu encontro, tamanho foi a demora.
Quando a vejo, me surpreendo, estava linda, continuar com dezoito anos.
Perguntei se poderia dar um abraço.
Incisivamente falaste:
__não.
Pedi desculpas me justificando, que o fato
de estar com ela naquele lugar, debaixo do cajueiro, vendo as folhas balançando
de um lado para o outro, valsando ao som do canto dos pássaros, onde tivemos
demorados beijos, abraços… tinha me deixado comovido, confuso.
Finalmente,
comovida também, decide ceder, mas com restrição, deixou-me abraça-la, sem
beijos, pedindo para não apertar tanto, tivesse cuidado com a mão para que não
colocasse onde pudesse constrangê-la. Distraído desci a mão, bravamente,
perguntou:
__está louco?
Respondi, possivelmente! Se desejá-la é estar
louco. Pois bem, conheceste a origem da minha loucura, você. Sorriu
discretamente, me chamou de mentiroso. Enquanto descia o zíper do vestido, passei a
conversar despretensiosamente sobre a festa da padroeira da cidade, mês
passado, e que estava linda naquele vestido, fiz um daqueles elogios surrados
que as mulheres estão cansadas de ouvir, e as deixam chateadas, por isso não
vou ter a audácia de repetir aqui. Enfim depois de descido zíper, deixa o vestido cair
livremente. Essa foi a melhor visão que tive, olhei vagarosamente, tocando a
face, a mesma ternura no olhar, os lábios, pareciam nunca ter tocados outros
lábios. Só após o meu delicioso delírio, deitamos como sempre fizemos ali.
Desta vez enquanto acariciava seus negros e longos cabelos perguntei o que
teria acontecido se eu não tivesse ido embora.
Antes de tudo, quero que tu saibas verdade da qual vou te falar.
Sinto-me culpado por esse pequeno mundo do qual pertencíamos, ter desmoronado,
quando soubeste, lembro com muita tristeza, que eu iria embora. Vi seus
lacrimosos e aflitos olhos, querendo dizer algo, talvez pedir para não ir.
Pois, saibas agora, portanto, aquela noite não consegui dormir, pensando na
ternura do seu olhar, na sua inocente sensualidade, e no amor divinamente nosso
que darias a outro, certamente, não por ser uma moça leviana, dada aos
prazeres, mas porque vivíamos a efervescência hormonal que a natureza nos
proporcionava e nessa fase, querida, somos como um corcel selvagem, não há quem
consiga se conter.
Às vezes trago à memória as horas que
ficamos aqui deitados se tocando, explorando, tentando conhecer o infinito
caminho da arte de amar. Só depois do majestoso sol se preparar para ser
consumido pela eterna senhora de luto, íamos embora. Ah! Querida, não sabes o
peso da culpa que carrego por ter deixado para trás aquele doce encanto que
vivíamos. Hoje 20 anos depois, estamos aqui para agradecer a este centenário
senhor por continuar sendo o abrigo do nosso amor, e guardião deste segredo. A
proposito o homem sentado na mesa ao teu lado na festa, é seu marido?
Olhou envergonhada
pela pergunta, de cabeça baixa respondeu:
__ Sim, é meu
marido, um grande homem, foi levar as crianças para escola.
Farias 20 / 06 / 2009
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