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02 janeiro 2024

O VELHO CAJUEIRO.

 

  VELHO CAJUEIRO.

     Foi exatamente neste lugar, embaixo desta árvore que te vi sem a parte de cima da roupa pela primeira vez. Os seios volumosos, tão desejosos. Delicadamente tentei tocá-los, mais delicada ainda sorrindo tentou esconder juntando os braços. Éramos dois jovens, querendo descobrir o mundo e acabamos nos descobrindo amantes.

    Todas as tardes lembras? Marcávamos nos encontrarmos embaixo do nosso pé de caju. Acredito que este cajueiro nasceu com este propósito, acolher, testemunhar a nossa ingênua e intensa paixão. Ah, meu velho cajueiro, tua sombra encobria as mais extravagantes cenas de amor. Não imagina quanta saudade! Tinha mandado um recado por um moleque, e ela não aparecia, cheguei a pensar que não viria ao meu encontro, tamanho foi a demora. Quando a vejo, me surpreendo, estava linda, continuar com dezoito anos.

    Perguntei se poderia dar um abraço. Incisivamente falaste:

    __não.

    Pedi desculpas me justificando, que o fato de estar com ela naquele lugar, debaixo do cajueiro, vendo as folhas balançando de um lado para o outro, valsando ao som do canto dos pássaros, onde tivemos demorados beijos, abraços… tinha me deixado comovido, confuso. 

    Finalmente, comovida também, decide ceder, mas com restrição, deixou-me abraça-la, sem beijos, pedindo para não apertar tanto, tivesse cuidado com a mão para que não colocasse onde pudesse constrangê-la. Distraído desci a mão, bravamente, perguntou:

__está louco?

 Respondi, possivelmente! Se desejá-la é estar louco. Pois bem, conheceste a origem da minha loucura, você. Sorriu discretamente, me chamou de mentiroso. Enquanto descia o zíper do vestido, passei a conversar despretensiosamente sobre a festa da padroeira da cidade, mês passado, e que estava linda naquele vestido, fiz um daqueles elogios surrados que as mulheres estão cansadas de ouvir, e as deixam chateadas, por isso não vou ter a audácia de repetir aqui. Enfim depois de descido zíper, deixa o vestido cair livremente. Essa foi a melhor visão que tive, olhei vagarosamente, tocando a face, a mesma ternura no olhar, os lábios, pareciam nunca ter tocados outros lábios. Só após o meu delicioso delírio, deitamos como sempre fizemos ali. Desta vez enquanto acariciava seus negros e longos cabelos perguntei o que teria acontecido se eu não tivesse ido embora.

     Antes de tudo, quero que  tu saibas verdade da qual vou te falar. Sinto-me culpado por esse pequeno mundo do qual pertencíamos, ter desmoronado, quando soubeste, lembro com muita tristeza, que eu iria embora. Vi seus lacrimosos e aflitos olhos, querendo dizer algo, talvez pedir para não ir. Pois, saibas agora, portanto, aquela noite não consegui dormir, pensando na ternura do seu olhar, na sua inocente sensualidade, e no amor divinamente nosso que darias a outro, certamente, não por ser uma moça leviana, dada aos prazeres, mas porque vivíamos a efervescência hormonal que a natureza nos proporcionava e nessa fase, querida, somos como um corcel selvagem, não há quem consiga se conter.

   Às vezes trago à memória as horas que ficamos aqui deitados se tocando, explorando, tentando conhecer o infinito caminho da arte de amar. Só depois do majestoso sol se preparar para ser consumido pela eterna senhora de luto, íamos embora. Ah! Querida, não sabes o peso da culpa que carrego por ter deixado para trás aquele doce encanto que vivíamos. Hoje 20 anos depois, estamos aqui para agradecer a este centenário senhor por continuar sendo o abrigo do nosso amor, e guardião deste segredo. A proposito o homem sentado na mesa ao teu lado na festa, é seu marido?

Olhou envergonhada pela pergunta, de cabeça baixa respondeu:

__ Sim, é meu marido, um grande homem, foi levar as crianças para escola. 

                                                                                                            Farias 20 / 06 / 2009

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