LÚCIA
Malta, interior paraibano, um daqueles povoados centrados no sertão,
onde a vida passava lentamente sem as turbulências e os costumes da cidade
grande. Pois, foi ali que nasceu e cresceu Lúcia, uma moça tão bela e radiante
que contrastava com a paisagem sofrida e rústica daquele lugar. Todas as
tardes, sem falhar um dia, eu colocava uma cadeira de balanço na calçada, só
para vê-la passar quando voltava da igreja. Veja só! Lúcia, além de ser linda
ainda roçava a santidade, dava aula de catecismo para a meninada da vila, era
realmente uma santa. E por isso não devia olhar para ela de maneira tão
licenciosa, embora me sentisse atraído pelas ancas avantajadas;
Um dia, final de tarde, como de costume, veio pedir baygono, um tipo de
inseticida para matar mosquitos, na minha casa, aliás, a casa de Lúcia devia
ter muitos pernilongos, já que, pelo menos duas ou três vezes na semana, vinha
pegar veneno. Não pense que sou avarento e estou lamentando. Pelo contrário o
que seria de mim naquele lugar, sem os mosquitos da casa de Lúcia?! Direis
portanto, convicto da graça presença dela lá em casa. Eu adorava quando ela
vinha, trocávamos longos olhares, ela sempre terna, ria. Eu, libertino, a
desejava.
A noite caíra. Lúcia resolve ficar para conversar e assistir televisão,
afinal, não nos restava outra coisa naquela pequena e pacífica vila. Sem
que menos esperasse, mamãe resolveu ir dormir. Tudo se encaminhava conforme
havia planejado, desde o momento que ela decidiu ficar. Finalmente, ficamos
sozinhos. Logo que tudo silencia, Lúcia surpreende-me, levanta seu vestidinho
florido até a altura dos seios e pergunta se eu a achava bonita. Ora! Para mim
era linda com roupas, imagina seminua! Agora meu caro amigo José, preciso
dizer: era uma tortura. Lúcia provocava, entretanto, não me permitia aproximar
dela, sempre que ia ao seu encontro, apontava para o sofá dizendo
incisivamente:
__ sente lá menino é só pra você vê.
Sem resistência, atendia a ordem, permanecia sentado, enquanto dançava
despudorada. Era uma coisa irreal para aquele lugar, se alguém a visse tão
lasciva, não acreditava que fosse ela, e se alguma pessoa contasse algo
parecido estava sujeita a ser expulsa da vila, ou iria parar na cadeia por
falso testemunho, visto que, era uma pessoa acima de qualquer suspeita.
Enfim, depois de tanto tormento que me causara, decidiu sentar do
meu lado, encostou a face à minha e passou a segredar. Cada palavra dita,
mostrava o ser primitiva que era., não havia força para suportar tanto desejo,
seu corpo parecia convulsivo, ela sofrera o fenômeno da involução, já não mais
falava, simplesmente grunhia. Senti então que era a minha hora. E quando
de fato, ia tornar senhor daquele feérico momento, o velho sofá que estávamos
não suportou tanta volúpia, range e quebra. O ranger pareceu-me um lamento por
não poder ser cúmplice dos últimos instantes.
O barulho acorda minha mãe. Ouvimos quando abriu a porta do quarto e
dirigiu-se à sala arrastando o chinelo sempre que trocava a passada. Ao chegar,
olhou para mim e perguntou o que tinha acontecido. Lúcia, sentadinha e
imaculada como sempre aparentou ser, não me deixou responder, tomou a frente e
disse:
__não foi nada, dona Maria, foi o
Frederico que pulou da estante para cima do birô”. Mamãe ficou convencida,
voltou ao quarto, sem hesitar, pois, conhecia muito bem o Frederico, sabia que
não existia gato mais travesso do que ele.
Bom, como Lúcia já estava composta de roupa, e era tarde, precisava ir
para casa, e certamente, minha mãe esperava por isso. Pois, foi justamente o
que fizemos. Antes de sair aproximei do ouvido dela, perguntei se viria amanhã.
Não confirmou nada, apenas mostrou o frasco cheio da encomenda que fora
buscar. Desolado? Até fiquei, todavia, tinha certeza que a nossa história
não chegara ao fim, cedo ou tarde, Lúcia estaria batendo à porta, trajando de
propósito, o mesmo vestidinho florido, o frasco de maionese na mão dizendo:
__ dona Maria, a senhora tem baygon?
Farias 1999
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