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02 janeiro 2024

UMA PINTURA DA NATUREZA.

 

UMA PINTURA DA NATUREZA.

 

    Há muito tempo, confesso, você não estava entre as coisas mais lembradas no meu dia a dia, porém em toda história de amor existem os pequenos detalhes que nos tornam únicos um para o outro, então fica difícil, quase impossível não recordar de vez enquanto suas manias, a roupa que gostava de vestir para dormir, os dias que dormia sem roupa, a maneira de sentar, uma cicatriz, uma marca qualquer. Não me diga, por favor que não recorda! Pois quem diz não lembrar de um amor ou algo especial vivido com alguém também especial, é porque mente, ou sofre da perda das memórias proibidas.

    Ontem no final da tarde enquanto passeava no calçadão da avenida, logo aqui pertinho de onde a gente mora, passou por mim uma mulher não mais bonita nem menos elegante que você. Por esse motivo e outro que direi mais adiante, me chamou atenção. Olhei sem pretensão alguma, e percebi uma pinta escura ou sinal como chamam popularmente, um pouco acima do joelho dela. Embora semelhante a que você tem, não mostrava a mesma beleza, por isso, certamente, desviei o olhar daquelas pernas tão bonitas e apressadas. No entanto desde o bendito instante tirar-lhe da cabeça está trabalhoso. Até tento, mas... As nossas doces lembranças, guardadas, ou melhor trancadas na secreta gaveta da nossa consciência, libertaram – se, ainda mais sugestivas. E como sou destinado aos prazeres, me vejo preso a essas vontades cada vez mais. Passo horas revivendo o tempo que acariciava com as pontas dos dedos essa marca de nascença, assim você a chamava.

     A hora do seu banho! Extasiante, eu ficava deitado imaginando a água do chuveiro batendo em sua cabeça, descendo tomando todo o corpo, banhando seu ventre que a natureza pintou. Ah! Inveja da água do banho de todo dia  que banha  e refrescar a sua manchinha escura. A perda dos prazeres que tudo isso me dava, reconheço, mexeu profundamente comigo, depois que foi embora mulher, fiquei muitos anos com uma imagem sua em minha mente! Agora, 3:45h da madrugada, sem pedir permissão vou aqui reviver mais uma vez: fazia muito calor naquela tarde, após o banho resolveu voluntariosamente deitar no chão, igualzinha como veio ao mundo, um travesseiro amarelo com estampa de um cacto acomodava a cabeça. Eu ali sentado, escorado na parede contemplando aquela pintura da natureza. Pensando o que seria mais belo, você que foi forjada nos braços do amor? Ou a pintinha escura do lado esquerdo abaixo do seu umbigo? Cansada a visão de tanto fixamente olhar, pedia licença e por amor as artes, deitava ao seu lado, desfrutávamos daqueles momentos maravilhosamente necessários a nossa vida.

        Eu amava tudo em você, ainda que, a sua manchinha preta fosse apenas um detalhe, para mim era uma intervenção artística da natureza nesse monumento cheio de curvas e ondulações. Imaginá-la sem ela, era uma coisa irreal. Por fim, agradecemos querida amiga, a natureza divinamente complacente conosco, pois deixou a região do seu ventre mais bela, por que pôs sua manchinha preta no lugar onde, somente eu, seu único amor, podia ver. 

                                                                                                               Farias 12/01/2012

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