UMA PINTURA DA NATUREZA.
Há muito
tempo, confesso, você não estava entre as coisas mais lembradas no meu dia a
dia, porém em toda história de amor existem os pequenos detalhes que nos tornam
únicos um para o outro, então fica difícil, quase impossível não recordar de
vez enquanto suas manias, a roupa que gostava de vestir para dormir, os dias
que dormia sem roupa, a maneira de sentar, uma cicatriz, uma marca qualquer.
Não me diga, por favor que não recorda! Pois quem diz não lembrar de um amor ou
algo especial vivido com alguém também especial, é porque mente, ou sofre da
perda das memórias proibidas.
Ontem no
final da tarde enquanto passeava no calçadão da avenida, logo aqui pertinho de
onde a gente mora, passou por mim uma mulher não mais bonita nem menos elegante
que você. Por esse motivo e outro que direi mais adiante, me chamou atenção.
Olhei sem pretensão alguma, e percebi uma pinta escura ou sinal como chamam
popularmente, um pouco acima do joelho dela. Embora semelhante a que você tem,
não mostrava a mesma beleza, por isso, certamente, desviei o olhar daquelas
pernas tão bonitas e apressadas. No entanto desde o bendito instante tirar-lhe
da cabeça está trabalhoso. Até tento, mas... As nossas doces lembranças,
guardadas, ou melhor trancadas na secreta gaveta da nossa consciência,
libertaram – se, ainda mais sugestivas. E como sou destinado aos prazeres, me
vejo preso a essas vontades cada vez mais. Passo horas revivendo o tempo que
acariciava com as pontas dos dedos essa marca de nascença, assim você a
chamava.
A hora
do seu banho! Extasiante, eu ficava deitado imaginando a água do chuveiro
batendo em sua cabeça, descendo tomando todo o corpo, banhando seu ventre que a
natureza pintou. Ah! Inveja da água do banho de todo dia que banha
e refrescar a sua manchinha escura. A perda dos prazeres que tudo
isso me dava, reconheço, mexeu profundamente comigo, depois que foi embora
mulher, fiquei muitos anos com uma imagem sua em minha mente! Agora, 3:45h
da madrugada, sem pedir permissão vou aqui reviver mais uma vez: fazia muito
calor naquela tarde, após o banho resolveu voluntariosamente deitar no chão,
igualzinha como veio ao mundo, um travesseiro amarelo com estampa de um cacto
acomodava a cabeça. Eu ali sentado, escorado na parede contemplando aquela
pintura da natureza. Pensando o que seria mais belo, você que foi forjada nos
braços do amor? Ou a pintinha escura do lado esquerdo abaixo do seu umbigo?
Cansada a visão de tanto fixamente olhar, pedia licença e por amor as artes,
deitava ao seu lado, desfrutávamos daqueles momentos maravilhosamente
necessários a nossa vida.
Eu
amava tudo em você, ainda que, a sua manchinha preta fosse apenas um detalhe,
para mim era uma intervenção artística da natureza nesse monumento cheio de
curvas e ondulações. Imaginá-la sem ela, era uma coisa irreal. Por fim,
agradecemos querida amiga, a natureza divinamente complacente conosco, pois
deixou a região do seu ventre mais bela, por que pôs sua manchinha preta no
lugar onde, somente eu, seu único amor, podia ver.
Farias 12/01/2012
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